EDITORIAL
DOI: 10.21901/2448-3060/self-2019.vol04.0002

 

Brumadinho: o segundo alerta

 

Brumadinho: The second alert

 

Brumadinho: el segundo alerta

 

 

Em fevereiro de 2016, a Self publicou o artigo "O clamor de Maria", de minha autoria. Três anos após a tragédia de Mariana, mais uma barragem se rompeu em Minas Gerais e, desta vez, apesar do impacto ambiental ser menor, as perdas humanas serão maiores.

A barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, desmoronou, lançando lama e dejetos sobre a área administrativa da empresa, causando mortes e destruição, alcançando moradias e pousadas, além da área rural da cidade.

Em dezembro de 2018, o Conselho Estadual de Política Ambiental e a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado de Minas Gerais aprovaram licença requerida pela Vale para ampliar a capacidade da Mina da Jangada e da Mina Córrego do Feijão das atuais 10,6 milhões de toneladas de ferro para 17 milhões de toneladas por ano (Carvalho & Vieira, 2019).

Tendo isso em conta, fica evidente a insanidade e a irresponsabilidade dos nossos órgãos públicos, no caso em particular, em relação à segurança e à proteção ambiental e social.

Uma corrente de lama e detritos inundou, matou pessoas e causou ferimentos, amargando e sufocando nossas bocas abertas, quase impedindo-as de gritar por socorro. Socorro difícil para localizar corpos soterrados na substância mortífera e no descaso, na irresponsabilidade, na ganância, no crime.

Era de se esperar que a tragédia e o barro de Mariana fossem utilizados de maneira para dar forma a novos projetos de transformação da política sombria e da visão que avilta a alma da natureza e a do homem. Mas tudo continuou em Brumadinho, sem reparação ou mudanças.

Perdemos vidas, perdemos áreas de proteção ambiental e de produção agropecuária. Perdemos a vergonha.

O nome da cidade nos remete a bruma e, portanto, à sombra. Sombra dos cidadãos, sombra daqueles que dizem querer o bem e o progresso do Brasil, sendo ávidos para encher os bolsos de dinheiro, não importando a maneira.

Mais uma vez o lado sombrio se manifestou em forma de destruição, degradação e deterioração. A lama misturada aos detritos ceifou vidas, esperanças, aviltou a Mãe Terra e nos entupiu de horror. Gritos estão sendo ouvidos em toda região.

A fase de nigredo verificada na catástrofe de Mariana, com a potencialidade de se transmutar em albedo, permanece inalterada. Teremos a oportunidade de iluminar nossas consciências e lutar por uma ética digna de pessoas humanas, se nos esforçarmos para tal. Pois a lama de Mariana, entendida como uma manifestação do lado sombrio da anima, deu seu recado ao povo brasileiro, que parece não o ter registrado.

Muitas perguntas ficam no ar: será que a catástrofe ocorrida em Brumadinho servirá para que ações sérias e eficazes sejam realizadas? O recente acontecimento nos envia uma nova advertência, será que estamos atentos para ouvi-la? E os Poderes Judiciário e Legislativo, ouvirão? Até quando seremos cúmplices da impunidade, da inconsciência e da inconsequência?

 

Dulce Helena Rizzardo Briza

Presidente do Conselho Editorial

 

Referências

Carvalho, M. A., & Vieira, V. (2019, 26 de janeiro). Vale conseguiu, em dezembro, aval para ampliar exploração. O Estado de S. Paulo. p. A13.